[De repente em MS]

Não sei como eu aceitei aquele convite. Na verdade, foi bem fácil para mim: eu só queria estar próximo de você durante as longas férias da faculdade, pela primeira vez desde que nos conhecemos estaríamos três meses sem a presença um do outro. Sem as pizzas para fugir do restaurante universitário, sem os horários do almoço na entrada da biblioteca, sem as noites de conversas aleatórias para suprir a falta que nossas famílias nos causava.

Um plano bem arquitetado foi necessário para fugir da ponta Oeste do estado, e então ingressar no desconhecido Mato Grosso do Sul, cruzando a fronteira e me embrenhando em seu interior até sua pequena cidade natal.



"De todos os amigos que chamei, você foi o único que veio", você me disse ao cruzarmos olhares na rodoviária.
"Porque eu não suportaria não estar com você" (somente pensei), mas disse "Não recusaria um convite desses".

Quatro dias ao seu lado na melhor pose de colega da faculdade, com o requintes de um apaixonado mudo que buscava a todo instante te abraçar, deitar ao seu lado, olhar em seus olhos buscando telepaticamente dizer: "entenda o que estou sentindo. Me dê um sinal de que sente o mesmo".

Dormir ouvindo sua respiração na cama ao lado foi a tortura mais sensual que eu poderia imaginar para aquelas férias. A cada movimento que um fazia, o outro perguntava "ainda acordado?", pois em silêncio selamos o acordo de maximizar as horas que passaríamos juntos sabendo que o relógio seguia desenfrado na contagem regressiva até minha partida.

Que doce prazer meu ônibus de retorno ter atrasado três horas. Você me perguntou incontáveis vezes "Não quer voltar pra minha casa? Pedimos reembolso da empresa, e amanhã você viaja".

"Não, eu preciso ir" (menti com o nó na garganta e a pequena agulhada no peito).

O que foi aquele nosso abraço de despedida? A Terra parou de girar, os sons emudeceram ao meu redor, e minha respiração apenas se concentrava em absorver os últimos resquícios do seu aroma que logo se tornaria uma doce memória... Você chorou pela primeira vez na minha frente. Eu chorei no ônibus para parecer forte.

Dormi em meio a soluços... e ao acordar, um SMS piscava na tela do celular: "Precisamos conversar", você disse. Trágico 2009 sem 3G.

Dois anos depois, encontrei a aliança que carregava seu nome em uma de minhas mudanças. E te disse minha última frase: "O que faço com ela?"
Você me disse sua frase final: "Guarde. Nós nunca sabemos o amanhã".
Eu não guardei.

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